Chama-se ‘Somos todos Diamantes’ e é um projeto comunitário criado por Zeca Duarte – um condómino que olhou para esta nova fase de isolamento como uma oportunidade para aproximar vizinhos e homenagear o que temos de mais valioso: a vida.

Quem é o homem que fez nascer o projeto ‘Somos todos Diamantes’?
Eu chamo-me Zeca Duarte e moro no prédio número 90 da Rua dos Diamantes – um bairro em que já me dava bem com imensas pessoas, porque isto de ter uma cadela (a Truffa) ajuda imenso a socializarmos. Isto sobretudo quando até já temos um grupo de quatro ou cinco pessoas que se encontra todos os dias à mesma hora para passear os seus cães e chegamos a estar duas horas na conversa. São amizades que ficam para sempre!

Como surgiu e se concretizou esta ideia de dinamizar assim a rua e o bairro?
Face ao que o País e o Mundo estão a passar, vi-me sozinho em casa com o meu filho de quatro anos, num estado de emergência em que o confinamento começou por ser voluntário e rapidamente passou a obrigatório. Fiquei sozinho com o meu filho e com a Truffa, porque a guerreira cá de casa – a minha mulher – é enfermeira no Hospital de Cascais e desde muito cedo decidimos haver isolamento total também da parte dela, pelo alto potencial de contágio já que ela se encontra em contacto com doentes infetados. E foi assim que tudo começou: como trazer a minha mulher sã e salva para casa e o mais rápido possível, assim como contribuir para que todos os heróis do nosso País o pudessem fazer também rapidamente? Falei com os meus vizinhos e liguei uma coluna de 500Wts na janela da cozinha. Na primeira noite começámos por colocar o Hino Nacional, na segunda noite tocou a música “Imagine”, do John Lennon, e no dia seguinte os meus vizinhos já estavam a pedir para passar mais músicas e a fazer dedicatórias a familiares, a amigos e a vizinhos que se encontram longe.

Como foi a adesão das pessoas?
A verdadeira explosão e adesão deu-se quando criámos a página no Facebook para tornarmos este espírito de grupo ainda mais coeso e rápida e surpreendentemente chegámos aos seis mil seguidores nos primeiros 10 dias! O grupo chama-se “Somos todos diamantes” pelo facto de estarmos na Rua dos Diamantes (o epicentro desta onda de massa emocional e humana) e o nosso grito de união consolida-se a si mesmo quando todos dizemos “Uma rua, um País…o Mundo!”. E desde então tem sido uma explosão fantástica de espírito de comunidade, de solidariedade e de vizinhança.

Quais foram as situações marcantes que viveram neste processo?
Foram tantas… Desde as homenagens que já fizemos aos heróis do nosso País – profissionais de saúde, Policia, Bombeiros, Professores, funcionários dos CTT, da higiene urbana, do setor dos supermercados, entre tantos outros – até a pedidos de casamento! Temos uns vizinhos aqui na rua que vão ser avós pela primeira vez e, a pedido da filha que está afastada deles, passámos o som do bater do coração do bebé, porque nesse dia ela tinha feito a ecografia e não tinha como a mostrar aos futuros avós. Foi muito emocionante e as pessoas batiam palmas à medida que o coração ecoava pelas ruas. Também já celebrámos uma nova passagem de ano com tudo o que podemos imaginar: fogo de artificio, contagem decrescente, a tradicional subida para cima da cadeira, a lingerie azul, etc. Isto de modo a reentrarmos neste 2020 com um espírito positivo e resiliente face ao que estamos a viver e ao que ainda está para vir.

Não celebramos o fim do vírus, mas sim a nossa maneira de o enfrentar e de percebermos que, graças ao que estamos a viver, o ano 2020 é efetivamente o ano das NOSSAS VIDAS.

Como acha que vai ser o relacionamento das pessoas no bairro daqui para a frente?
Claro que o vírus vai acabar e nós estaremos cá para o celebrar, voltando a vida ao normal, mas as pessoas vão estar diferentes. Vão estar melhores, mais sensíveis e a viver mais intensamente a liberdade e o espírito de comunidade… hoje, e após 30 dias consecutivos juntos numa só voz, a nossa causa já ultrapassou os 25 mil seguidores no Facebook e, se eu pudesse mandar uma mensagem à rua, ao País e ao Mundo, diria que um diamante é uma espécie de pedaço de carvão que, após a superação de vários testes ao longo da vida, se torna único, brilhante e, acima de tudo, sendo o material mais resistente do planeta.

Por isso, e face ao que estamos a viver, convido todos a dizerem comigo, numa só voz: somos todos DIAMANTES!

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